Interesse por procura de emprego cai e debate sobre o aumento do Bolsa Família cresce

Nos últimos meses, um debate acalorado tem ganhado espaço entre economistas e empresários brasileiros: o impacto do aumento do Bolsa Família na disposição da população para buscar emprego.

Com o crescimento expressivo do programa social, que atualmente beneficia cerca de 54,5 milhões de pessoas, surgem questionamentos sobre o possível desincentivo ao trabalho formal que o benefício pode estar gerando.

No entanto, também é extremamente necessário destacar a importância do Bolsa Família para os brasileiros mais pobres e levar em consideração outros pontos que podem desestimular a procura por trabalho, e que não são citados pelos empresários.

Debate sobre o aumento do Bolsa Família cresce

A discussão ganhou novo fôlego após o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, abordar o tema em um evento de grande prestígio internacional, realizado anualmente em Jackson Hole, nos Estados Unidos.

Em sua análise sobre os desafios da política monetária global, Campos Neto destacou o crescimento dos programas sociais brasileiros como um dos fatores que podem estar contribuindo para a persistência da inflação e para a lenta recuperação econômica.

O Bolsa Família, desde sua criação, é reconhecido nacional e internacionalmente por seu papel fundamental na redução da pobreza e na promoção da dignidade social.

No entanto, a expansão do programa durante e após a pandemia da Covid-19 levantou preocupações.

Isso aconteceu principalmente durante 2022, quando o antigo governo de Jair Bolsonaro (PL) inflou o extinto Auxílio Brasil em busca de apoio eleitoral da população mais pobre, que indicava que votaria em seu rival eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Com a vitória de Lula, o Auxílio Brasil foi extinto porque era considerado ineficaz, dando espaço para a volta do Bolsa Família.

Assim, o valor do benefício, que antes era de R$ 89 por família, saltou para um mínimo de R$ 600, com adicionais entre R$ 50 e R$ 150 para famílias com crianças pequenas, gestantes e nutrizes.

Esse aumento significativo, de mais de 500% no valor pago, foi uma medida de emergência adotada para mitigar os efeitos econômicos da crise sanitária, já que durante o antigo governo a pobreza extrema voltou a crescer no Brasil.

Contudo, o impacto desse aumento a longo prazo começa a ser questionado pelo setor econômico do país, apesar de não serem eles os brasileiros beneficiários, que vivem em situação de vulnerabilidade e entendem a necessidade do programa.

O que pensa o empresariado sobre o Bolsa Família

Empresários e especialistas em mercado de trabalho observam que, enquanto a economia dá sinais de recuperação e o desemprego apresenta queda, o número de pessoas fora da força de trabalho permanece elevado.

Dados do IBGE indicam que mais de 66 milhões de brasileiros com idade superior a 14 anos não estão dispostos a buscar emprego, número superior ao período pré-pandemia.

Para alguns analistas, esse cenário sugere que o aumento dos valores pagos pelo Bolsa Família pode estar contribuindo para que parte da população opte por não voltar ao mercado de trabalho.

Eles acreditam que, embora a redução na pobreza extrema seja inegavelmente positiva, o efeito colateral pode ser um mercado de trabalho mais restrito e uma menor oferta de mão de obra, o que pode, a longo prazo, prejudicar a economia do país.

Contudo, é importante destacar que trata-se apenas de uma percepção do setor de empresários no país, sem nenhuma pesquisa que de fato mostre a correlação entre o aumento no valor do Bolsa Família e a queda no número de pessoas em procurar um novo emprego.

Isso porque outros fatores também devem ser levados em consideração para entender o porque há uma parcela de brasileiros que desistem de procurar emprego, mas por algum motivo estes fatores não são citados pelos empresários em suas conversas internas e nem por Campos Neto.

Destaca-se aí as altas exigências de qualificação e instrução escolar e universitária, os baixos salários, e as jornadas de trabalho maiores permitidas pela reforma da previdência de 2019, reforma esta que foi apoiada pelo setor econômico.

Estes dois últimos precarizaram o mercado de trabalho para os profissionais, priorizando o interesse de patrões em detrimento das necessidades da classe trabalhadora, que se sente cada vez mais desestimulada.

O governo, por sua vez, tem buscado ajustar o programa. Desde o início de 2023, o número de beneficiários do Bolsa Família caiu em mais de um milhão, possivelmente em função de um pente-fino nas inscrições.

Esse ajuste é extremamente necessário, pois já foram identificados cadastrados irregulares no Bolsa Família, que se inscreveram em meio a “boiada” permitida pelo governo Bolsonaro para facilitar a reeleição do ex-presidente, que nem assim conseguiu devido aos arroubos antidemocráticos.

O debate, contudo, está longe de ser resolvido e deve continuar a ocupar um espaço central nas discussões sobre o futuro da economia brasileira.

No entanto, é necessário que as necessidades dos mais vulneráveis sejam defendidos dos interesses da alta cúpula da classe empresarial brasileira já muito beneficiada por isenções, incentivos e todo tipo de benefício governamental, apesar de serem críticos aos benefícios para os mais pobres.