Entenda o comportamento dos usuários que tem o transtorno por uso de cannabis

A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de descriminalizar o porte de maconha para consumo próprio trouxe à tona questões importantes sobre o impacto da cannabis na saúde mental dos usuários.

Entre os principais pontos de discussão está o transtorno por uso da substância, uma condição que afeta uma parcela significativa dos consumidores da droga.

Transtorno por uso de cannabis: comportamento dos usuários

O transtorno por uso de cannabis é uma condição que se caracteriza pelo consumo compulsivo e descontrolado da maconha, impactando negativamente a vida pessoal, social e profissional dos usuários.

Esse transtorno, que pode ser comparado à dependência química, é marcado por uma série de sintomas que dificultam a rotina dos indivíduos afetados.

Os sintomas do transtorno incluem o uso frequente e em grandes quantidades da substância, dificuldade em reduzir o consumo e a presença de fortes desejos de uso.

Além disso, os usuários podem apresentar alterações de humor, como ansiedade e depressão, especialmente quando tentam diminuir ou cessar o consumo.

Esses comportamentos prejudicam as atividades diárias, comprometendo o desempenho no trabalho e nos estudos, e impactam negativamente as relações interpessoais.

Segundo Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra e professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “O transtorno atrapalha as atividades habituais de trabalho e estudo, prejudica as relações interpessoais e gera desinteresse.”

Pesquisas recentes indicam que aproximadamente 7,7% dos usuários brasileiros de maconha podem ser classificados como “usuários disfuncionais”.

Este número é semelhante ao observado em estudos internacionais, como nos Estados Unidos, onde cerca de 9% dos consumidores de cannabis desenvolvem dependência.

Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa em Saúde Kaiser Permanente revelou que, no estado de Washington, 21,3% dos usuários apresentam transtorno por uso de cannabis, com variações na gravidade do quadro.

Riscos do transtorno por uso da cannabis e tratamentos

O desenvolvimento do transtorno por uso de cannabis está associado a vários fatores, incluindo a frequência e a quantidade de consumo.

Usuários que começam a fumar em idade precoce ou que possuem histórico familiar de transtornos mentais, como esquizofrenia, estão em maior risco.

Para tratar o transtorno por uso de cannabis, existem abordagens que incluem a redução gradual do consumo, com a ajuda de terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, medicação.

Outra estratégia é a cessação abrupta do uso, com foco no tratamento dos sintomas subsequentes, como ansiedade e depressão.

Silveira destaca a importância de um tratamento adaptado às necessidades individuais de cada paciente.

A descriminalização do porte de maconha pode facilitar o acesso dos usuários aos serviços de saúde e promover uma discussão mais aberta sobre o uso seguro da substância.

Silveira observa que a nova política pode melhorar a abordagem de saúde pública, reduzindo o estigma e incentivando os usuários a buscar ajuda sem medo de serem criminalizados.

Com a mudança na legislação, o Brasil avança para uma postura mais inclusiva e informada sobre o uso de cannabis, alinhando-se às práticas de países que adotaram políticas de descriminalização ou legalização da substância.