Conheça o padre que ‘previu’ os buracos negros

Em um período em que a ciência moderna ainda estava se moldando e não havia menções a buracos negros, um padre britânico pouco conhecido desafiou os limites do conhecimento astronômico.

John Michell, nascido em 1724 em Eakring, Inglaterra, utilizou as leis da física newtoniana para antecipar a existência dos misteriosos buracos negros, muito antes de Albert Einstein revolucionar a física com sua Teoria da Relatividade Geral.

Conheça o padre que ‘previu’ os buracos negros

Michell, filho do pároco local, Gilbert Michell, e de Obedience Gerrard, demonstrou desde cedo uma capacidade intelectual notável.

Educado em casa, sua educação avançada o levou à Universidade de Cambridge, onde passou mais de duas décadas estudando e lecionando disciplinas como hebraico, grego, aritmética, teologia e geologia.

Durante sua permanência em Cambridge, Michell desenvolveu uma paixão pela experimentação científica.

Em 1750, ele publicou um estudo inovador sobre o magnetismo e, dez anos depois, um trabalho detalhado sobre a mecânica dos terremotos.

Essas publicações não apenas destacaram sua versatilidade como cientista, mas também sua capacidade de antecipar fenômenos naturais.

A descoberta mais impressionante de Michell veio em 1783, quando ele publicou um estudo que delineava a possibilidade da existência de “estrelas escuras”.

Utilizando princípios newtonianos, Michell postulou que, se uma estrela tivesse massa suficiente, sua gravidade poderia ser tão forte que nem mesmo a luz poderia escapar dela.

Essa teoria essencialmente previa o que hoje conhecemos como buracos negros.

Como o padre “previu” os buracos negros?

Michell explicou que, se a luz fosse atraída pela gravidade da mesma maneira que outros corpos, uma estrela suficientemente massiva poderia capturar sua própria luz, tornando-se invisível.

Ele sugeriu que a existência dessas estrelas poderia ser inferida pela observação das órbitas de corpos celestes próximos, uma metodologia que ainda é usada na detecção de buracos negros.

Apesar de suas ideias visionárias, Michell não buscava reconhecimento.

Após deixar Cambridge, ele se estabeleceu em Thornhill, Yorkshire, onde se tornou pároco e continuou suas correspondências com outros intelectuais da época, incluindo Benjamin Franklin.

Sua morte em 1793, aos 68 anos, deixou muitos de seus trabalhos inacabados, mas suas contribuições continuaram a influenciar a ciência.

As teorias de Michell caíram na obscuridade até serem redescobertas no século 20, destacando-se pela precisão com que previram fenômenos que a ciência moderna apenas começava a entender.

Sua capacidade de unir fé e ciência, explorando o cosmos sem perder de vista a espiritualidade, exemplifica uma era em que o pensamento religioso e científico coexistiam de maneira harmoniosa.

Hoje, John Michell é lembrado como um pioneiro cujas ideias sobre os buracos negros estavam muito à frente de seu tempo, antecipando descobertas que só seriam plenamente aceitas séculos depois.

Seu legado é um testemunho da importância da curiosidade intelectual e da imaginação científica.

Com informações da BBC News Brasil.